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O FUTEBOL OLÍMPICO SEM ESPÍRITO OLÍMPICO

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O futebol masculino entrou no programa dos Jogos Olímpicos de Verão em 1900, edição sediada em Paris. Foi o segundo esporte coletivo a ter a honra de fazer parte do grande acontecimento que é uma olimpíada, depois do polo aquático. Desde então, apenas na edição de 1932, realizada em Los Angeles, não houve um torneio de futebol masculino na grande festa do esporte.

Vitória da Grã Bretanha por 4x0 sobre a França, nos jogos de Paris. FOTO: wikipedia
Vitória da Grã Bretanha por 4×0 sobre a França, nos jogos de Paris. FOTO: wikipedia

Tanta pompa e circunstância para desmerecer categoricamente tudo o que representa o espírito olímpico!

Somos fãs de futebol. É de longe o esporte mais amado do mundo. Movimenta milhões de corações e bilhões de dólares ao redor do mundo. Mas no que diz respeito ao torneio olímpico, é uma grande falta de respeito.

Desde a estreia em Paris até hoje, o torneio olímpico de futebol masculino já passou por todos os níveis de prestígio até chegar ao que vemos hoje.

Começou cheio de honra. Era de fato a competição futebolística mais importante então disputada no mundo. Bretões e Uruguaios ganharam três e dois ouros olímpicos, respectivamente, até a edição de 1928. Para se ter uma ideia da importância do torneio olímpico nessa época, pergunte a um uruguaio quanto títulos mundiais eles têm e ouvirá que são quatro: duas copas do mundo e dois ouros olímpicos (em 1924, novamente em Paris, e em 1928, em Amsterdã).

Pois justamente os torneios que consagraram a “Celeste Olímpica” (sacou o “olímpica”?), foram os torneios derradeiros antes de a FIFA organizar Copas do Mundo de Futebol Masculino e com isso, iniciar a decadência do torneio olímpico. Propositalmente!

Os uruguaios saúdam a torcida após vencer a Suíça na final: e assim foi criada a volta olímpica. FOTO: reprodução
Os uruguaios saúdam a torcida após vencer a Suíça na final: e assim foi criada a volta olímpica. FOTO: reprodução

A FIFA quer tudo para si quando se trata de dinheiro (e futebol também, por consequência). Para que não haja concorrência para a Copa do Mundo de Futebol, o torneio olímpico foi minado por completo. Já de cara, proibiu-se a participação de atletas profissionais. Por mais absurdo que pareça, essa regra perdurou de 1932 até 1978! Neste período, brilharam as seleções do leste europeu, já que para lá da cortina de ferro o futebol não era profissionalizado e os países eram representados por seus times principais, enquanto os times ocidentais levavam seleções verdadeiramente amadoras para as olimpíadas. A Hungria é recordista de ouros olímpicos com as conquistas de 1952, 1964 e 1968 (junto com a Grã-Bretanha, dos três ouros anteriores às Copas do Mundo).

Em 1984, quando os jogos voltaram a Los Angeles, a regra mudou e a FIFA permitiu que participassem os atletas profissionais, desde que nunca tivessem jogado uma Copa do Mundo. Neste aspecto, sempre disputavam o torneio olímpico, jogadores de pouca idade, que ainda não haviam tido tempo de disputar uma Copa, o que fatalmente fariam dois anos depois e na edição seguinte das Olimpíadas, não poderiam participar. Sob esta regra (que durou por duas edições apenas), o Brasil conquistou duas de suas três pratas olímpicas no futebol masculino.
Em 1992, os jogos foram a Barcelona e na cidade de onde sairia o campeão europeu daquele ano (portanto, onde se jogava o suprassumo do futebol), mudou-se novamente a regra para participação no torneio de futebol masculino. Aceitar-se-ia jogadores de até 23 anos de idade, com até três atletas de qualquer idade compondo o grupo. Perceba quanto Latim se gasta para explicar as convocações dos times olímpicos na regra que perdura até hoje…

Esta epopeia explica porque hoje em dia, hão pessoas que não sabem que o futebol masculino faz parte do programa olímpico. Teve gente achando que estes jogos de futebol das olimpíadas realizados antes da abertura são “retrato da bagunça do Brasil”. O futebol é um esporte com muito desgaste físico (não que outros esportes não o sejam), e precisa-se de um tempo de descanso considerável entre uma partida e outra, por isso não há tempo hábil para a realização do torneio completo no intervalo entre a abertura oficial e o encerramento das olimpíadas.

Mas isso é o de menos. Em última análise, os torneios continentais classificatórios para as olimpíadas também são torneio olímpico de futebol e acontecem bem longe das olimpíadas. Até o fato de ocorrerem jogos fora da cidade sede a gente perdoa, já que as vezes, algumas provas necessariamente são disputadas fora da sede. Londres não tem mar, por isso as competições de vela e maratona aquática não foram realizadas lá na última edição dos jogos, só para citar um exemplo.

Mas essa história de não colocar em campo a nata daquela modalidade no país que tem o direito de disputar o torneio olímpico e deste não ser o torneio mais importante da modalidade, isto é imperdoável!

Todos os esportes olímpicos têm seu ápice exatamente nas olimpíadas: seleções de vôlei passam quatro anos se preparando para as olimpíadas; seleções de basquete passam quatro anos se preparando para não fazer feio contra os Estados Unidos na olimpíada; todos os esportes individuais têm atletas se preparando durante toda uma vida para que seu ponto máximo na carreira se dê nas olimpíadas; mas o futebol masculino, não. O torneio olímpico de futebol masculino nada mais é que um fardo que a FIFA carrega.

Quando os gregos inventaram os jogos olímpicos, lá antes de Cristo, o fizeram para homenagear seus Deuses e celebrar a humanidade, a perfeição de nossos corpos e a amizade entre os povos. Com o mesmo objetivo, o Barão de Coubertin ressuscitou o espírito olímpico na era moderna. O menosprezo que o futebol masculino tem por este espírito chega a ser asqueroso às vezes.

A cada edição dos jogos olímpicos, discute-se muito sobre “o que fazer com o futebol”. Soa estranho que na maior festa do esporte, o maior esporte do mundo não participe. Isso de certo modo “obriga” a inserção do futebol na roda dos jogos. Há todo tipo de teoria: fazer do que é hoje a Copa do Mundo da FIFA um torneio entre os maiores clubes do mundo e fazer do torneio olímpico a grande competição entre seleções; fazer do torneio olímpico um “campeonato de másters”, trazendo à baila o que foi a nata o esporte até poucos anos atrás; e até que “apenas” as mulheres representem o principal esporte do mundo no principal evento esportivo. Todas as teorias têm pontos positivos e negativos, mas fato é que nenhuma providência é tomada e esta falta de respeito com o espírito olímpico e o que as olimpíadas representam em seu âmago continuará, até segunda ordem.

O time feminino do Brasil e sua epopeia olímpica. FOTO: Rio 2016
O time feminino do Brasil e sua epopeia olímpica. FOTO: Rio 2016

PS: o “’apenas’ as mulheres” tem sentido de exclusão dos homens. Ter as mulheres representando o futebol nas olimpíadas seria uma honra para o futebol, já que elas sim, encarnam o espírito olímpico e fazem de seu torneio a competição mais importante de sua modalidade. Sem contar na qualidade do jogo, que não ficaria devendo em nada para ninguém. Vide Marta, o mito.

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2 Comments

  1. Bebeto
    05/08/2016 at 20:48 — Responder

    Pra mim, deveria haver o diálogo para que a copa do mundo passasse a ser realizada dentro dos jogos olímpicos.
    Poderíamos ter um ciclo com:
    Ano 1. Continentais menores/eliminatórias dos continentais (eliminatórias da euro/copa América/copa das nações árabes/copa da Oceania/Caribe/América do Norte/América central/etc)
    Ano 2. Copa das confederações: com todos esses campeões + pais sede + último campeão olímpico
    Ano 3. Continentais pra valer (eurocopa/Ásia+Oceania/África/pan-americano — durante os jogos pan-americanos)
    4. Os 4 campeões do ano anterior, mais pais sede e campeão da copa das confederações. 12 times, os demais são complementados pelo ranking da FIFA, num torneio organizado em conjunto pelas 2 entidades.

    Ajudaria inclusive a racionalizar o calendário do futebol mundial, com 9 semanas das seleções entre preparações e torneios, 9 semanas de férias mais pre-temporada depois e então começa a temporada, mais curta q agora, mas com uma redução drástica de datas fifa durante a temporada, com ultimo mês sendo pras últimas etapas continentais e mundiais de times.

    E pra completar, durante a copa das confederações (um torneio um pouco mais “vazio”, com poucas seleções em atividade) realizaria, durante a fase de preparação, um continental ou mundial com seleções das ligas nacionais (jogadores q atuam nas ligas, independente da nacionalidade) e, a nível Brasil, durante a fase de preparação dos jogos pan americanos, um campeonato brasileiro de seleções, estas duas últimas competições citadas, sem os jogadores convocados para as competições mais importantes.

    Acho q ficaria bem legal, tanto pro futebol de times quanto pro futebol de seleções.
    E potencializaria o grande evento das olimpíadas.

  2. Bebeto
    05/08/2016 at 20:46 — Responder

    Pra mim, deveria haver o diálogo para que a copa do mundo passasse a ser realizada dentro dos jogos olímpicos.
    Poderíamos ter um ciclo com:
    Ano 1. Continentais menores/eliminatórias dos continentais (eliminatórias da euro/copa América/copa das nações árabes/copa da Oceania/Caribe/América do Norte/América central/etc)
    Ano 2. Copa das confederações: com todos esses campeões + pais sede + último campeão olímpico
    Ano 3. Continentais pra valer (eurocopa/Ásia+Oceania/África/pan-americano — durante os jogos pan-americanos)
    4. Os 4 campeões do ano anterior, mais pais sede e campeão da copa das confederações. 12 times, os demais são complementados pelo ranking da FIFA, num torneio organizado em conjunto pelas 2 entidades.

    Ajudaria inclusive a racionalizar o calendário do futebol mundial, com 9 semanas das seleções entre preparações e torneios, 9 semanas de férias mais pre-temporada depois e então começa a temporada, mais curta q agora, mas com uma redução drástica de datas fifa durante a temporada, com ultimo mês sendo pras últimas etapas continentais e mundiais de times.

    E pra completar, durante a copa das confederações (um torneio um pouco mais “vazio”, com poucas seleções em atividade) realizaria, durante a fase de preparação, um continental ou mundial com seleções das ligas nacionais (jogadores q atuam nas ligas, independente da nacionalidade) e, a nível Brasil, durante a fase de preparação dos jogos pan americanos, um campeonato brasileiro de seleções, estas duas últimas competições citadas, sem os jogadores convocados para as competições mais importantes.

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