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A queda de Levir e a dificuldade de privilegiar o trabalho a longo prazo no Brasil

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Levir teve um bom aproveitamento, mais deixa o Galo após o vice do Brasileiro. FOTO: Bruno Cantini/Atlético
Levir teve um bom aproveitamento, mais deixa o Galo após o vice do Brasileiro. FOTO: Bruno Cantini/Atlético

Os dirigentes do Galo, depois de quatro anos com uma tendência de manutenção do treinador optaram por voltarem a cultura de resultados que impera no futebol brasileiro. Se não ganhou, não serve. As justificativas serão as mesmas que se ouve sempre. Dar uma mexida no elenco, criar um fato novo para motivar o time, entre outras justificativas para as decisões em cima de resultados. Os atleticanos foram incapazes de observar a própria história recente da equipe. Nas únicas temporadas em que manteve o técnico de uma temporada para a outra, o time foi vice campeão Brasileiro e, no ano seguinte, venceu a Libertadores. Já tinham na própria história a prova de que trabalhos de longo prazo, com começo meio e fim, dão frutos.

Mas no dia em que completou um ano da histórica conquista da Copa do Brasil, o Galo deu um passo atrás e anunciou que não seguirá com Levir Culpi no comando do time. Mais uma vez os dirigentes não permitiram que se desenvolvesse um trabalho sólido, de longo prazo, que leve a conquistas e a um time forte. Passo atrás, porque jogaram fora a continuidade do trabalho, pelos resultados que não vieram nesta temporada. Não que o time não tenha disputado títulos, ao contrário. O time de Levir esteve entre as duas primeiras posições em todo o Campeonato Brasileiro sendo líder em boa parte da competição. Foi eliminado por detalhes da Libertadores em dois grandes jogos com o Internacional, nos quais poderia ter vencido.

Mais que isso, o que importa é que o time tinha uma forma de jogar já bem desenvolvida e entrosamento, fruto do tempo de trabalho. Tirando alguns jogos com exibições abaixo da média, era um time que possuía alguma regularidade e era ofensivo, prezando pela posse de bola aliada a velocidade. Tinha conceitos que o transformavam em um time prazeroso de se ver jogar em seus melhores momentos. Tinha carências e pontos fracos, como qualquer time de futebol, mas tinha também muita qualidade.

Daí, os resultados vieram. Com bons jogos no primeiro semestre, criou-se a expectativa pelo título do Brasileiro. Só que no segundo turno da competição, com o acumulo de jogos, o desempenho da equipe caiu e logo vieram os questionamentos sobre o técnico Levir. O fracasso na luta pelo título se concretizou e mais uma vez o técnico paga a conta. O excelente trabalho feito até ali, que a propósito já rendera títulos de expressão, como a Copa do Brasil e a Recopa, já não serve mais. Simplesmente porque os resultados não se repetiram. Agora, o clube busca a troca de treinador, podendo arriscar a temporada seguinte, caso o técnico que chegue não acerte o time logo de inicio. Uma demora no acerto do novo trabalho pode levar a uma eliminação na Libertadores, enquanto um time já pronto e bem definido sairia na frente na competição que reúne times, em sua maioria, já prontos e de qualidade.

O Atletico abandona, com isso, uma postura positiva dos últimos anos e caí nas praticas comuns aos dirigentes do futebol brasileiro. Impera a “curtura”, como bem diz o grande narrador Willy Gonzer, com trocas de técnico como se troca de roupa. O próprio técnico Tite, comandante do Corinthians, que para muitos é o grande time brasileiro da atualidade, foi e será vitima dos resultados. Hoje ele é dado por muitos como sendo disparado o melhor técnico brasileiro, merecedor de ser comandante da seleção brasileira, moderno e do nível dos melhores do mundo, a pouco tempo já foi demitido do mesmo Corinthians, com a pecha de “Empatite” porque o time empatava demais. Isto depois de ter conquistado tudo nos últimos dois anos. A desculpa era que o time precisava de novas motivações. Um ano bastou para a opinião mudar e ele voltar para conquistar mais um brasileiro.

O problema é crônico no futebol brasileiro. Outro exemplo está no Cruzeiro. A inexplicável demissão de Marcelo Oliveira que conduziu o clube, brilhantemente no bicampeonato brasileiro foi demitido por uma sequencia de maus resultados no começo da temporada. A queda do time em boa parte era pelo erro de planejamento da direção de perder quatro dos principais jogadores do time de uma vez no começo da temporada. Sem a base do time anterior era perfeitamente previsível a queda de desempenho. Mas a conta mais uma vez caiu sobre o técnico e ele foi dispensado mesmo com o aproveitamento recorde na história do clube e com títulos de expressão conquistados. Enquanto isso o clube, no decorrer do ano, correu o risco de ser rebaixado com o novo técnico e agora tenta “salvar” a temporada, com seu terceiro treinador no ano, buscando uma vaga na Libertadores.

Marcelo Oliveira bicampeão nacional pelo Cruzeiro, não sobreviveu a segunda eliminação na Libertadores. FOTO: Somos Cruzeiro
Marcelo Oliveira bicampeão nacional pelo Cruzeiro, não sobreviveu a segunda eliminação na Libertadores. FOTO: Somos Cruzeiro

O próprio Internacional depois de eliminar o Galo na Libertadores demitiu Javier Aguirre que fazia um bom trabalho apesar do pouco tempo que lhe foi dado no cargo. O time estava longe de estar pronto e competitivo mas se acertava e chegou às quartas da Liberta. Mas ai os resultados não vieram e fim da linha para o técnico. A justificativa era a necessidade de criar um “fato novo”. E conseguiram. O Inter foi goleado pelo rival Grêmio por 5 a 0 como não era desde 1910. Os métodos do treinador não foram aceitos por dirigentes, torcida e imprensa e o técnico não resistiu. Perdeu-se ali mais uma boa oportunidade de introduzir novos conceitos ao atrasado futebol brasileiro.

Segue o jogo no futebol brasileiro, com a mesma falta de planejamento de sempre, com times fracos e com poucos times que se possam chamar de prontos. Mais um ano se passa sem que os times consigam começar e terminar o ano com os mesmos técnicos e mesmos jogadores do inicio. Segue a incapacidade de formar times de verdade, segue a abissal diferença existente entre o futebol daqui e os praticados nos principais centros do mundo. Seguem times que são amontoados de jogadores sem um mínimo de competitividade. Porque times bem estruturados não se formam em sete jogos ou em dois meses como se pensa por aqui.

Mais um ano em que a “dança das cadeiras” está a todo vapor. Já são 30 trocas de treinador entre dezenove equipes da divisão principal, considerando somente o período desde a primeira rodada do Campeonato Brasileiro. Só um dos times da série A terminará a competição com o mesmo treinador, “coincidentemente” o campeão Corinthians de Tite. Isso até a próxima eliminação ou sequencia de derrotas…

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